quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Tentanda Via

Restam mundos a ver... Eia, heróis. — Nau que brilhas
Dentro em mim, cai rufiando à mó de irmãs galeras;
Erguer ancoras, vá, alar! às maravilhas
De um mar hirto de leões em fogo e estranhas feras!

Arquipélago argênteo, esplendidas Antilhas,
Farelhões de rubis, lumaréus de crateras,
Alfaquis de corais, por entre vós flotilhas
De áureas palandras vão rodando como esferas.

Aproar. . . subir ao céu, rumo dessa obra-prima
Vamos de perto olhar quem a faz, quem a ordena,
Quem o abismo no abismo encrava, e o estende, e o anima.

Aos deuses! . . . Ao chegar bradaremos: À cena. .
E hemos vê-los jogar os sóis abaixo e acima,
Como besantes de oiro às mãos de histriões na arena!

Algas e Musgos

Não prima esta obra de ourivesaria
Por leve, caprichosa e delicada,
Como devera ser, como pedia
Pequena tela de oiro trabalhada...

Nem de oiro sempre: a lamina talhada
Foi do metal que às mãos acaso havia,
Logo que me soava uma harmonia
E eu via a frase em mole dança eleada.

Casando o ritmo ao frêmito das cores,
Vergéis em vale estreito enchi de flores,
Sob a cúpula azul de um céu ardente:

E indo gravar as mais triunfantes gemas,
Para as pôr dando luz em meus poemas,
Algas e Musgos burilei somente.

Hombreira

Vagas cheirando a brisas das balseiras
Que vêm do oceano, num suspiro apenas,
E trazem conchas d'oiro e de açucenas,
A' flor da areia, expondo-as em fileiras.

Grutas soltas de nácar : mais não queiras
Nestes poemas ter;são vãs phalenas,
Que, para ir illudindo algumas penas.
Ato ás asas da noite, e ahi vão ligeiras.

Verás algumas pérolas, se fores,
Quando as ondas não crespas vão rolando.
Quando da tarde a luz cambiando as cores,

E ora azul e ora verde o mar baixando.
Têm nas escamas trêmulos fulgores,
E abrem-se às praias num bocejo brando . .